Sete Alegrias

"Alegra-Te, Cheia de Graça…"

Arquivos de tags: S José

Procuram o Menino para Matar

José adormeceu sorrindo, pensando nos alegres e recentes acontecimentos: o nascimento do Bebê Jesus, a alegria da sua esposa, a homenagem dos reis magos, o coro dos anjos. Toda a criação rendia glória ao seu filho, até o boi e o burro, até a natureza inanimada, até a estrela do oriente.

Mas, no meio da noite, surgiu a mensagem terrível e urgente trazida pelo anjo:

– Pega o Menino e Sua Mãe e foge! Herodes vai procurar o Menino para matá-Lo!

A reação de José, como sempre, foi de paz e obediência.

Este espisódio, à luz do nosso mundo, do mundo moderno, caracterizado pela rebeldia, parece ainda mais insólito. O homem de hoje, no lugar de José, certamente diria “um momento, não é este o Filho de Deus, o Verbo Incarnado, como assim, fugir? Pelo contrário, vamos já providenciar um bom esquadrão de anjos vingadores e dar uma lição nesse Herodes”.

Este é o pensamento da sociedade atual, da qual fazemos parte, e não é verdade que muitas vezes pensamos assim frente às contrariedades? Não queremos dar ordens a Deus e ditar a ordem dos acontecimentos? Já paramos para analisar a má influência da mídia de massa, do sistema educacional e da indústria cultural – instituições maciçamente dirigidas por inimigos de Deus – na nossa formação? Já avaliamos quantas rebeldias foram plantadas dentro de nós por estes inimigos da fé? Já sentimos dentro de nós o orgulho, a inveja, o despeito, todos estes vapores borbulhando, prestes a explodir frente à menor contrariedade, um incidente no trânsito, um comentário no seio familiar?

José sabia que a sua vida era uma missão, empreitada de amor concebida por Deus, e, tanto quanto ele, todos nós – eu e você – temos uma missão, única, exclusiva, irrepetível e intransferível.

“Ah, mas a tarefa de José era diferente, era cuidar do Filho de Deus, e a minha vida é insignificante…”

Este é mais uma das armadilhas da vida moderna – a arapuca do brilho, da vanglória, da ostentação –, uma bomba-relógio colocada na sua cabeça para explodir quando você se estiver em uma encruzilhada, decidindo entre o bem e o mal. Que sábio pode saber o valor de uma vida? Se for realmente sábio, terá esta pretensão?

Pela sua obediência, José mereceu o mais alto dos céus, ao lado da sua esposa muito amada, a Virgem Maria, a Mãe de Deus. Quem diz isso não sou eu, não. São palavras emanadas da boca de Nosso Senhor Jesus Cristo:

– O que Deus uniu, o homem não separe!

***

Fátima, 19 de agosto de 1917

No dia 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceu a Lúcia, Francisco e Jacinta, três pastorinhos, em Fátima, Portugal. Pediu para a encontrarem naquele local todos os dias 13, até outubro. No dia 13 de agosto, entretanto, as crianças não puderam ir, pois haviam sido levadas presas à aldeia pelo administrador da região, uma espécie de prefeito. O administrador era maçom e inimigo da fé religiosa. Naquele ano, a maçonaria mundial completava 200 anos de fundação e desfilava em Roma com bandeiras negras mostrando o demônio esmagando São Miguel Arcanjo. Para entender a relação da maçonaria com a Igreja, leia o livro de dom Boaventura Kloppenburg, Igreja e Maçonaria, Conciliação Possível?

No domingo posterior, dia 19, por volta das 4 horas da tarde, Maria foi ao encontro das crianças. Como de costume, precederam-na relâmpagos, uma diminuição da intensidade da luz do sol e um súbito refrescar da temperatura.

“O que a senhora deseja de mim?” perguntou Lúcia. “Quero que continueis a ir à Cova da Iria, no dia 13, e que continueis a rezar o terço todos os dias.”

Lúcia pediu um milagre, para que acreditassem nas aparições. “Sim, no último mês, em outubro, farei um milagre para que todos creiam nas minhas aparições. Se não vos tivessem levado à aldeia, o milagre teria sido mais grandioso. Virá São José com o Menino Jesus para dar a paz ao mundo. Virá também Nosso Senhor para abençoar o povo. Virá ainda Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Dores.”

Lúcia pediu, então, a cura de alguns doentes. “Sim, alguns curarei durante o ano.” E, tomando um aspecto muito triste, a Mãe de Deus acrescentou: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, pois vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.” Em seguida, despediu-se e, elevando-se na direção do nascente, desapareceu.

Duas frases se destacam neste diálogo: “Se não vos tivessem levado à aldeia, o milagre teria sido mais grandioso” e “vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”.

No dia 13 de outubro, a Virgem fará o sol dançar por mais de 10 minutos, frente a uma multidão de 70 mil pessoas. Não dá nem pra imaginar o que teria feito se não estivesse magoada com as autoridades. Qual seria o milagre grandioso? Instintivamente, pensamos: que grandiosidades Deus faria na nossa vida se não procedêssemos tão mal!

Nós nos esquecemos de rezar e nos sacrificar pelos nossos irmãos porque estamos acomodados nas nossas coisinhas, tentando juntar dinheiro, e não nos lembramos de que estamos neste mundo de passagem e já já daremos contas a Deus. Os outros não nos preocupam, afinal, não é “cada um por si e Deus pra todos”? Frase filha de outra, mais antiga “Por acaso sou guarda-costas do meu irmão?” Ambas blasfemas, ambas homicidas.

As autoridades trataram mal as crianças, e nós deixamos a nossa caridade esfriar. No fundo, as duas frases de Nossa Mãe são parecidas, são críticas ao nosso desamor. A aparição de agosto nos impele, uma vez mais, à busca pela santidade pessoal, sem a qual a vida é uma mentira inútil.

– “No entardecer da vida, sereis arguidos sobre o amor” (São João da Cruz)