Sete Alegrias

"Alegra-Te, Cheia de Graça…"

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Frases

“No dia em que você encontrar um rico feliz, me mostre, porque eu ainda não vi nenhum.”

Sensei Corisco

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“Quando você tem mais poder de grana, a religião fica um pouco de lado. Quanto mais rico, mais descrente.”

Zeca Pagodinho

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“Ó alma minha, come, bebe e regala-te, pois tens bens acumulados para muitos anos”

“Louco! Esta noite te pedirão contas pela tua alma.”

Lucas, 12, 19-20

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Meus olhos viram a Salvação

O homem é um ser religioso. Aristótoles chegou a esta conclusão observando os povos e percebendo que todos tinham religião. A religião precede e funda as civilizações.

Antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, todos os povos tateavam no escuro, procurando Deus. Ou melhor, quase todos. Israel era o povo escolhido. E, na nação israelita, havia um homem privilegiado chamado Simeão a quem havia sido anunciado que não morreria sem ver o Messias.

Nós somos mais privilegiados do que Israel e Simeão porque conhecemos toda a Revelação e recebemos a graça da fé em Cristo. Privilégio imerecido. Quantas pessoas melhores do que nós desejam saber as coisas que sabemos e, no entanto, desesperam na escuridão?

“Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.” (Mt 13,17)

Este privilégio traz, de imediato, duas consequências: agradecimento e ação. No episódio da cura dos dez leprosos, só um voltou para agradecer. Jesus disse: “Ué, não eram dez? Cadê os outros nove? Só um voltou para agradecer? E, ainda por cima, um estrangeiro?” E concluiu, dizendo ao samaritano: “A tua fé te salvou”. Nâo disse, mas ficou subentendido: “Quanto aos outros, a ingratidão os danou!”.

Agradecimento e… ação! Aqui entre nós, cara leitora, caro leitor, você conhece algum cristão agindo no Brasil hoje? Como diz o padre Paulo Ricardo, dá para contar nos dedos de uma mão aleijada. As nossas lideranças cristãs estão amedrontadas. O avanço do mal as assusta e elas mostram, finalmente, o vazio de que são feitas. Por isso, não espere nada delas. A briga é conosco, somos nós quem devemos dar a cara a tapa. Aos nossos líderes, está reservado o desprezo de Cristo:

– Deixai-os. São cegos e guias de cegos.

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Identidade Bourne, Identidade Brasileira

Jason Bourne é um agente secreto com amnésia. Acorda no meio do oceano, num barco de pesca. A sua única pista: o número de um cofre particular em um banco suíço. Lá, encontra dinheiro, uma arma e diversos passaportes falsos. O primeiro deles é o da República Federativa do Brasil. Gilberto del Piento. Osasco.

O passaporte brasileiro é o mais caro no mercado negro porque qualquer rosto cabe nele. Preto ou branco, alto ou baixo, redondo ou quadrado, japonês ou baiano, ninguém estranha. Esta é a melhor característica da identidade brasileira, a mestiçagem, a aceitação, a caridade cristã. Nós somos quem melhor compreendeu a frase evangélica “tendes um só Preceptor, e todos vós sois irmãos”.

Sabedor disto, o demônio e seus asceclas – os comunistas, os socialistas e os vigaristas – lutam para destruir a identidade nacional. A técnica usada é simples: dividir para reinar. Criar antagonismos. A luta de classes. As minorias. Pobre contra rico, mulher contra homem, filho contra pai, ciclista contra motorista, índio contra fazendeiro, preto contra branco (essa é a maior! Num país cuja padroeira é preta e o maior ídolo de futebol é preto) – todos contra Deus. “Você é um oprimido, você tem o direito de se libertar, você merece ser feliz – sereis como deuses.” A letra fria da lei em vez do calor da graça. O Estado em vez de Deus. Ódio e indiferença em vez do Amor.

Neste embate, o demônio tem tido sucesso, temos que reconhecer. O brasileiro deixou de lado a caridade e vive atrás do dinheiro. Mas ninguém pode servir a dois senhores. O gênio de Francis Ford Coppola, em recente passagem pelo Brasil, captou isto: “A alegria costumava ser a coisa mais importante no Brasil. Agora, a coisa mais importante é o dinheiro.” Precisou vir um gringo dizer isto na nossa cara!?

Assim, o brasileiro vai aos poucos perdendo a identidade. Bem ao contrário de Bourne que, ao longo do filme, vai encontrando pistas de quem é. O herói, em meio a mil peripécias, ainda encontra tempo para namorar. Marie acompanha Bourne durante boa parte do thriller, mas é forçada a sair de vista porque o perigoso namorado oferece risco à sua vida.

No finalzinho, após resolver as pendengas, Bourne parte em busca de Marie. Depois de muito procurar, vai reencontrá-la à beira-mar, tocando uma loja de aluguel de scooters.

– Posso alugar uma scooter? pergunta, jocoso.

– Você tem identidade? devolve Marie, num trocadilho.

E nós, brasileiros, ainda temos identidade?

A data de hoje, aniversário da cidade de São Paulo – a mais importante do Brasil, uma das mais importantes do mundo, que a todos aceita por ser herdeira de um dos maiores propagadores da fé cristã -, é o momento de refletirmos: ainda temos a identidade brasileira da mestiçagem nascida do amor de Cristo?

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O mundo digital

“O mundo digital pode ser um ambiente rico em humanidade; uma rede, não de fios, mas de pessoas.”

Papa Francisco

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Pescadores de homens

Quando lemos no Evangelho a frase de Cristo chamando os apóstolos, pensamos que aquilo é um fato histórico longínquo, dirigido aos escolhidos, não tem nada a ver conosco, é para quem tem a vocação de religioso. A nós cabe cuidar das nossas coisinhas e da nossa vida. Os outros que se arranjem lá com o padre. Entretanto, Cristo também deixou bem claro que todos nós somos irmãos e que a caridade é a mais importante das virtudes. Por isso, nós, conhecedores da autêntica felicidade, temos a obrigação de “pescar” os homens para Deus, de aproximá-los da Verdade. Este é o maior bem que podemos fazer aos outros.

Por outro lado, nós somos pessoas comuns, sem vocação para o pastoreio, com o círculo de amizades sempre restrito. Os verdadeiros amigos são raros. São poucas as pessoas com quem podemos ter conversas profundas e sinceras. Temos poucos amigos mas muitos conhecidos, nossos colegas de trabalho, nossos vizinhos, as pessoas com quem travamos relações ocasionais no dia a dia, todos são nossos irmãos. Não podemos fechar os olhos às suas necessidades porque talvez sejamos os únicos cristãos verdadeiros em suas vidas. Temos que dar um jeito de aproximá-los da Verdade também. O que fazer?

Mais uma vez, uma mulher vem em nosso auxílio. Madre Teresa de Calcutá tem uma frase emblemática, um lema para a vida inteira: “Não devemos permitir que ninguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. Para isso, basta às vezes um cumprimento, um sorriso, um gesto. Não sabemos o que vai no coração da outra pessoa. Uma simples palavra pode tirá-la do desespero. O segredo para a comunicação é ver no outro a face do Cristo necessitado.

Como a cotovia de Manuel Bandeira, nós, pobres pecadores mas portadores da felicidade cristã, podemos dizer, em nome de Cristo: “sei, no espaço de um segundo, limpar o pesar mais fundo”.

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O demônio-da-guarda do Brasil

Assim como cada um de nós tem um anjo-da-guarda, as nações têm o seu. Nas aparições de Fátima, o anjo disse às crianças “Eu sou o anjo de Portugal”. Assim como há anjos-da-guarda, há os demônios tentadores, vou chamá-los de demônios-da-guarda.

No gabinete do centro, satanás despacha. Rubro de raiva, manda chamar o demônio-da-guarda do Brasil.

– Quantas vezes tenho que explicar? Naquele país, a sua principal arma não é o ataque frontal. Nada disso! Lembre-se do lema escolhido para eles, a frase de Caifás “é conveniente que um homem morra pelo povo” – ah! a conveniência, o bom-mocismo brasileiro, o estar bem com os outros, a preocupação com a aparência… Holanda bem o retratou no homem cordial. Só de pensar, tenho delírios!

Embasbacado, o demônio-da-guarda do Brasil aguarda quieto.

– Outra coisa: nada de dispersão, você está perdendo tempo chutando cachorro morto, quantas vezes já disse para se concentrar nos poucos cristãos remanescentes? Os outros não interessam, não podem fazer nada, não perca tempo com eles. Resumo da lição de hoje: centre fogo nos poucos cristãos que ainda restam soprando-lhes no ouvido que devem fugir da luta frontal, não devem dizer a verdade nua e crua, devem ter dedos e mãos para falar com os adversários daquele-que-morreu-na-cruz, quantos mais respeitos humanos melhor, inspire-os a fazer amizade com bandido com a vã esperança de que assim consigam fazer alguma coisa pelo bem, que pensem “um pouquinho é melhor que nada”, ah! como tem trouxa no mundo, a cada minuto nasce um otário mas no Brasil acho que nasce mais… Hahahaha…

Enquanto deixava o gabinete de satanás, o demônio-da-gurda do Brasil ainda conseguiu ouvir o chefe dizendo:

– Ah! a conveniência brasileira, como adoro o seu bom-mocismo, a auto-enganação, a amizade com os poderosos… ah!

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Ninguém quer pagar o preço

Diálogo de um filme de ação:

– Você é um lutador muito bom!

– Todo mundo quer ser bom mas ninguém quer pagar o preço.

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Ao ver a ação do mal no mundo, não conseguimos avaliá-lo em toda a sua dimensão porque é duro demais, feio demais – ou nos cega ou desviamos o olhar. Tendemos sempre a jogar a culpa pelas barbaridades na sociedade, no sistema, este mundo está perdido, desse jeito não dá pra fazer nada, o inferno são os outros. A natureza humana é assim mesmo; no Paraíso, Adão jogou a culpa em Eva, que jogou a culpa na serpente, nós jogamos a culpa em Deus, no governo, no patrão, no vizinho, no cônjugue.

Só quem consegue  avaliar exatamente o peso do mal é o santo, ou se você preferir, o justo, o homem bom, virtuoso, pois ele sabe que este mundo material, visível, não representa a realidade; a verdadeira realidade está na esfera espiritual; não a carne e o sangue, mas os espíritos que infestam os ares.

Só ele consegue ter a dimensão precisa do comportamento dos outros e do seu próprio comportamento. Às decisões dos príncipes do mundo opõe a santidade da sua vida de justo com a consciência de poder mais frente a Deus, pois Deus é amor. Ele vê, ao longo da história, a influência da atuação pessoal de cada um dos grandes benfeitores da humanidade e sabe que o bem não é obra de governos, de sociedades, de sistemas, é obra da atuação individual de uma pessoa que diz “deixa que eu chuto”.

O homem virtuoso está plenamente consciente da responsabilidade da sua ação. A sua prevaricação é pior do que o mal feito pelos tiranos – os maus sabem da malícia do seu intento e persistem nele; os bons sabem da bondade do seu intento mas muitos desistem dele. O justo sabe disso, da importância das mais mínimas ações, conhece o sentido da sua missão, está disposto a pagar o preço do sacrifício pessoal.

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Todo mundo quer mais bondade no mundo, mas ninguém quer pagar o preço…

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Ana Clara, queimada viva

A menina Ana Clara, de 6 anos de idade, foi queimada viva na onda de violência que tomou conta de São Luís do Maranhão.

Quem a matou?

Dizer que foi morta por ordem dos presos revoltados não é dizer a verdade completa. Também não se pode jogar toda a culpa na cínica mentalidade revolucionária dos discípulos de Marcuse que hoje domina o Brasil, para quem os marginais são a classe revolucionária destinada a fazer da civilização ocidental terra arrasada sobre a qual se construirá a sociedade livre de maldades, a sociedade socialista (ou comunista, é a mesma porcaria).

Quem matou a menina Ana foi a indiferença do brasileiro, a frieza pelo destino do irmão, a frouxidão dos seus ideiais, e a despreocupação com a verdade aliada ao bom-mocismo – o estar bem com os poderosos -, indiferença que permitiu o avanço do ideal de ódio esquerdista traduzido nos mais de 50 mil brasileiros assassinados por ano.

Das duas, uma: ou você sai do imobilismo ou você será cúmplice moral de assassinato.

Eu acuso você, brasileiro omisso e indiferente, pelo homicídio da pequena Ana Clara, queimada viva aos 6 anos de idade.

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Dispostos a tudo

O aluno recusou-se a pagar o que devia ao professor. Má hora. Porque o Caloteiro não era aluno de um curso qualquer, era aluno de karatê, e o sensei, acostumado a se desviar de soco na cara e aparar chute nos países baixos, não ia se deixar abater por uma simples rasteira.

O valor não era pequeno, e o professor não teve dúvidas: reuniu 60 karatecas e foi jantar na churrascaria do Aluno Caloteiro, empresário do ramo grastronômico. Meu amigo Zé, especialista em confusão, era um dos alegres convivas.

Finda a farta refeição, o Caloteiro apresentou a conta ao sensei, uma gorda conta, pois os famintos e insaciáveis praticantes tinham fome de leão já que precisavam repor a energia de quem passa horas dando chutes verticais.

– Mas, o que é isso? perguntou o surpreso sensei. Conta? Que conta, se eu não devo nada? Não estou entendendo…

Enfurecido, o Aluno-Empresário-Caloteiro vociferou:

– Ou paga ou eu chamo a polícia.

– Pode chamar. Mas, antes da polícia chegar, o prejuízo vai ser grande. Eis que estou com 60 karatecas, 60 homens dispostos a tudo. Quando a polícia chegar, vai ter mesa espetada no teto. E, na volta da delegacia, vamos atalhar por aqui…

O apatetado Caloteiro olhou ao redor e não gostou do que viu. Sessenta trogloditas em ponto de bala, molas prestes a pular, esperando feito gatos, prontos para entrar em combate à menor ordem do chefe. Polícia? Talvez um batalhão da tropa de choque para dar conta dos alentados artistas marciais! O Caloteiro achou mais barato, ou mais prudente, deixar pra lá.

Esta singela e construtiva história me faz desejar – a mim e a você, cara leitora, caro leitor –, esta mesma energia para buscarmos a realização de todos os nossos sonhos no novo ano que se avizinha.

E desejar que, pelo nosso ideal de vida, estejamos também dispostos a tudo.

Feliz Ano Novo!

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No Trono do Amon Hen

Com O Anel no dedo, Frodo corria colina acima, deixando para trás Boromir e o seu cego desejo de se apoderar da jóia. Como o Pomo da Discórida, O Anel lançara a intriga, a inveja e a ambição no seio da Confraria dos Nove. Cansado, chegou ao topo do Amon Hen e sentou-se no Trono da Visão, na Colina do Olho dos homens de Númenor. Viu muitas imagens e, por todos os lados, sinais de guerra, orcs saindo de mil tocas, lutas entre elfos e homens e animais cruéis, cavaleiros galopando em Rohan, navios de guerra saindo dos portos de Harad; todo o poder de Senhor do Escuro estava em ação. O seu olhar foi atraído para o leste, contra a sua vontade, passando por pontes arruinadas e portões escancarados, chegando até o vale do terror em Mordor e então ele viu a temida Barad-dûr, a fortaleza de Sauron, e de repente, sentiu a presença do Olho que nunca dormia. Frodo sabia que ele tinha percebido o seu olhar. O Olho saltou, ávido e ferroz, à procura dele, e vinha, inexoravelmente, avançando reino por reino, amurada sobre amurada, logo saberia exatamente onde ele estava. Ouviu a si mesmo dizendo “Nunca, nunca!” ou seria “Sim, irei até você”?

Entretanto, como um relâmpago, outro pensamento veio-lhe à mente: “Tire-o! Tire-o! Tire O Anel!” As duas forças, o mal e o bem, lutavam dentro dele.

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Vinha chegando o Natal, e duas forças lutavam dentro de José. O seu amor por Maria o retinha, a inexplicada gravidez o encucava. Não duvidava da sinceridade de Maria, mas não podia aceitar um filho que não era seu. Após muito refletir, revolvera abandonar a sua amada, atitude que marcaria Maria como uma mulher estigmatizada e jogaria a culpa sobre ele, tornando-o, aos olhos do povo, um desertor, um crápula incapaz de arcar com a responsabilidade. Já estava decidido quando um anjo lhe apareceu num sonho e esclareceu a situação. O anjo fez mais ainda, deu instruções precisas sobre a sua missão: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus”.

Os fatalistas quererão minimizar a importância de José dizendo que ele foi obrigado a fazer isto, como Maria foi obrigada a ser Mãe de Deus, como nós somos obrigados a fazer o que fazemos, não temos escapatória, nem poder de decisão, nem possibilidade de fazer o bem nem o mal, as coisas simplesmente acontecem, somos condicionados pelas circunstâncias, não existe liberdade, só o determinismo cego.

Nosso Senhor Jesus Cristo, porém, define as coisas de outra maneira. No julgamento final, seremos separados à sua direita e esquerda, condenados ou conduzidos à glória, segundo as decisões que tenhamos tomado. “Tive fome, e Me destes de comer, …” E perguntaremos “Senhor, quando isto aconteceu?”

“Tudo o que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes.”

Somos nós quem decidimos entre fazer o bem ou permanecer indiferentes à desgraça alheia – a indiferença, a grande inimiga do amor, exatamente o oposto da caridade, a frieza do coração, muito pior do que o ódio mais impenitente. O bem que deixamos de fazer só será conhecido no fim dos tempos, e nos envergonhará muito mais do que o mal que porventura tivermos feito, porque nem para isto – para fazer o mal – temos força.

José podia ter dito não, como nós muitas vezes dizemos. Mas, sendo justo, acordou do angélico sonho e fez como lhe ordenara o anjo.

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– Tire-o! Tire-o! Tire-o, tolo! Tire O Anel!

E Frodo, tomando consciência de quem era, lembrou que era livre, era o dono do seu destino, e que tinha, ainda, um último instante para exercer a sua liberdade. Tirou O Anel. Uma sombra negra passou por ele, tateando na direção do oeste. Tomado de grande cansaço, mas com disposição firme, falou em voz alta:

– Agora, farei o que devo fazer.

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